Robalo: O Rei do Mangue – Características, Pesca e Espécies no Brasil

Robalo O Rei do Mangue

Descubra tudo sobre o robalo (Centropomus spp.), suas espécies, habitat, alimentação, as melhores dicas de pesca esportiva e a importância da conservação.

Para muitos pescadores, o robalo não é apenas um peixe, é uma paixão. Conhecido por sua inteligência, força e a briga emocionante que proporciona, o robalo é um dos alvos mais cobiçados nas águas costeiras brasileiras.

Seja no mangue, em estuários ou em costões rochosos, a busca por esse predador astuto atrai milhares de entusiastas. Mas o que torna ele tão especial? Além de sua carne saborosa e valorizada na culinária, ele é um peixe cheio de peculiaridades, desde sua capacidade de viver em diferentes salinidades até sua reprodução hermafrodita.

Vamos mergulhar no universo do robalo, desvendando suas características, os tipos encontrados no Brasil, as melhores dicas de pesca e a importância de sua conservação.

Contexto: O Robalo em Nossas Águas

Classificação e Nomenclatura

O termo “robalo” é um nome popular que se refere a várias espécies de peixes do gênero Centropomus. No Brasil, ele também é conhecido como Camurim (palavra de origem Tupi, comum no Norte e Nordeste), robalinho, peba, chaliço, escalo ou robalete, dependendo da região.

Informações Científicas:

  • Nome Científico: Centropomus spp. (gênero)
  • Família: Centropomidae
  • Ordem: Perciformes

O nome “Centropomus” tem origem grega (κέντρον, “ferrão”), uma referência aos espinhos nos opérculos (placas ósseas na lateral da cabeça) que protegem as brânquias.

Características Físicas Gerais

Corpo:

  • Geralmente alongado e esguio, com uma linha lateral preta evidente que se estende até a cauda em muitas espécies.
  • Escamas presentes, mas o tamanho e o formato variam entre as espécies.

Boca e Dentição:

  • Boca ampla, com mandíbula inferior que se projeta para a frente em algumas espécies.
  • Dentes relativamente pequenos, mas as guelras são bem afiadas, o que exige cuidado no manuseio.

Coloração:

  • Dorso acinzentado ou esverdeado, com barriga esbranquiçada ou prateada.
  • Muitas espécies apresentam um reflexo esverdeado em todo o corpo.

Tamanho e Peso:

  • Varia muito entre as espécies, desde 30 cm até mais de 1,5 metro.
  • Peso pode ir de poucos quilos até 25 kg ou mais.

Onde Vivem os Robalos?

Habitat Versátil

É um peixe de água salgada, mas sua adaptabilidade é notável. Ele pode ser encontrado no Oceano Atlântico, desde a Flórida (EUA), passando pelo México, até o sul do Brasil (Santa Catarina).

Ambientes Preferenciais:

  • Fundos: Habita fundos arenosos e rochosos, em profundidades que podem chegar a 100 metros.
  • Estuários e Manguezais: Tem preferência por águas mornas e calmas, sendo muito comum em estuários e manguezais, onde encontra abrigo e alimento.
  • Águas Barrentas: Costuma procurar por águas fundas e barrentas, onde se sente mais seguro.
  • Estruturas: Prefere locais com pedras e vegetação, que oferecem descanso e proteção.

Resistência a Variações Ambientais

Uma das características mais impressionantes é sua resistência a alterações drásticas de salinidade e temperatura:

  • Salinidade: Suporta uma variação de sal que vai de 0,5% a 40%, o que explica sua presença ocasional em lagoas de água doce.
  • Temperatura: Sobrevive em temperaturas que variam de 2°C a 32°C.

Tipos de Robalo: As Espécies do Atlântico e Pacífico

Existem 6 espécies de robalo catalogadas no Oceano Atlântico e outras 6 no Oceano Pacífico. No Brasil, encontramos 4 das espécies do Atlântico.

Espécies do Atlântico (Presentes no Brasil)

  1. Centropomus undecimalis (Robalo-Flecha, Robalão, Robalo-Branco, Robalo-Comum):
    • Distribuição: Dos Estados Unidos até o Sul do Brasil.
    • Tamanho: Pode medir até 1,5 metro e chegar a 25 kg (o maior deles).
    • Características: Corpo alongado, listra preta evidente na lateral.
    • Comportamento: Nada em cardumes, sobe os rios para desovar no inverno.
    • Valor: Amplamente valorizado na pesca esportiva.
  2. Centropomus parallelus (Robalo-Peva, Robalinho, Camurim-corcunda):
    • Distribuição: Do Golfo do México até Santa Catarina.
    • Tamanho: Atinge até 60 cm e pode pesar 5 kg.
    • Características: Cabeça e boca grandes, mandíbula achatada e saliente.
    • Comportamento: Muito comum em estuários e manguezais.
    • Valor: Um dos tipos de robalo mais comuns e populares no Brasil.
  3. Centropomus ensiferus (Camorim-sovela, Robalo-espora, Robalo-espadachim):
    • Distribuição: Costa brasileira e americana.
    • Tamanho: Espécie razoavelmente pequena, até 36,5 cm.
    • Características: Escamas prateadas, manchas amareladas na cabeça e dorso.
    • Valor: Apreciado na culinária pela carne macia e saborosa, mas menos comum no Brasil.
  4. Centropomus pectinatus:
    • Distribuição: Costa americana e parte do Nordeste brasileiro.
    • Tamanho: Não muito grande, cerca de 40 cm.
    • Características: Dorso acinzentado, nadadeiras esverdeadas, cabeça e boca grandes.
    • Habitat: Costas de rios, riachos, canais e lagos com vegetação.

Outras Espécies do Atlântico (Não no Brasil)

  • Centropomus mexicanus (Robalo-Gordo de escama grande): Semelhante ao robalo-peva, mas com escamas maiores e barbatana alongada. Comum na Flórida, adapta-se bem à água doce.
  • Centropomus poeyi: Pode atingir 90 cm, mas a maioria fica em 50 cm. Prefere água fresca e salina, mas pode ir para água doce.

Espécies do Oceano Pacífico

Existem outras 6 espécies de robalo no Pacífico, com características e distribuições específicas:

  • Centropomus armatus (Robalo Armado): México ao Equador, até 37 cm, corpo alongado, linha lateral estendida até a nadadeira caudal.
  • Centropomus viridis (Robalo Branco do Pacífico): Califórnia ao Peru e Galápagos, até 117 cm.
  • Centropomus medius: Baixa Califórnia ao norte da Colômbia, também em água doce, até 250 km da costa.
  • Centropomus robalito: Golfo da Califórnia ao norte da Colômbia, até 35 cm, dorso cinza-azulado, barriga branca, linha lateral pálida.
  • Centropomus unionensis: El Salvador ao Peru, até 46 cm, dorso cinza-azulado, barriga branca, linha lateral escura.
Robalo O Rei do Mangue

Reprodução e Alimentação dos Robalos

Reprodução: Um Ciclo Hermafrodita

Maturidade Sexual:

  • Machos: Atingem a maturidade sexual aos 2 anos de idade.
  • Fêmeas: Atingem a maturidade sexual aos 3 anos de idade.

Hermafroditismo Protândrico:

Uma das maiores curiosidades é que os robalos são hermafroditas protândricos. Isso significa que eles nascem machos e atingem a maturidade sexual como machos, mas posteriormente se tornam fêmeas e tendem a permanecer assim pelo resto de suas vidas. Essa mudança geralmente ocorre entre os 2 e 7 anos de idade. O robalo-flecha, por exemplo, exibe essa característica.

Comportamento Reprodutivo:

  • Período: A reprodução ocorre geralmente entre março e abril, mas em locais quentes pode ser o ano todo. Em regiões mais frias, ocorre no verão, quando a temperatura da água é mais adequada (acima de 21°C).
  • Migração: Fêmeas migram para locais de desova, seguidas pelos machos em grupos.
  • Desova: Fêmeas circulam rentes a rochas, areia e cascalho, depositando os ovos nesses locais.
  • Fecundação: Machos se aproximam rapidamente para depositar o sêmen.
  • Proteção: Machos maiores podem permanecer com a fêmea para proteger a fecundação.

Alimentação: Um Predador Voraz

O robalo é um grande predador, com uma dieta que evolui com seu crescimento:

  • Juvenis: Alimentam-se de camarões e pequenos peixes.
  • Adultos: Conforme crescem, restringem sua alimentação a outras espécies de peixes menores e fáceis de capturar.
  • Pratos Preferidos: Sardinha, tainha e peixe-rei são alguns dos pratos favoritos do robalo. Locais com abundância dessas espécies costumam atrair cardumes de robalos.

Alimentação em Cativeiro:

  • Dieta: Predominantemente camarões e pequenos peixes.
  • Adaptação: Robalos capturados em água doce podem ter preferência por girinos e lambaris, enquanto os de oceano aceitam outros peixes.

Dicas de Pesca: Como Capturar um Robalo

Pescar robalo é uma arte que exige estudo, paciência e o equipamento certo.

Pré-Estudo e Condições Ideais

Antes de sair para pescar, faça um pré-estudo dos seguintes fatores:

  • Horário da Pescaria: Robalos são mais ativos em certos períodos.
  • Clima: Condições climáticas influenciam o comportamento do peixe.
  • Maré: Luas minguante e crescente influenciam a maré, impactando o comportamento do robalo.
  • Temperatura da Água:
    • Acima de 21°C: Robalos ficam mais próximos da superfície.
    • Abaixo de 15°C: Cardumes ficam em meia água ou no fundo.
  • Local: Robalos preferem águas mais calmas, com pedras e vegetação.

Equipamentos Essenciais

Varas:

  • Ação: Média, de 5,8 a 7 pés (1,76 a 2,13 metros). Essa ação proporciona um bom equilíbrio entre sensibilidade e força para arremessar e brigar com o peixe.

Linhas:

  • Libragem:
    • Até 4 kg: Linha de 10 a 17 lb.
    • Robalo-Flecha (mais pesado): Linha de até 30 lb.
    • Região Costeira (peixes maiores): Linha de 35 a 40 lb para evitar rupturas.
  • Tipo: Linha grossa é mais resistente e garante segurança, especialmente quando o robalo tenta se esconder em galhos.

Melhores Iscas para Robalo

A escolha da isca é crucial e deve considerar o tipo de água e o comportamento do peixe.

Iscas Naturais (Vivas ou Mortas):

  • Camarões: Vivos ou mortos, são excelentes para margens e próximos ao fundo.
  • Peixinhos Vivos: Corrupto, lambari, piaba, manjuba, mamarreis e barrigudinho são muito eficazes.

Iscas Artificiais:

Dicas de Escolha:

  • Cor da Água:
    • Águas Claras: Iscas de cores suaves.
    • Águas Turvas: Iscas de cores mais fortes.
  • Tamanho: Teste diferentes tamanhos de iscas, pois o robalo é conhecido por ser exigente.
  • Desconfiança: Robalos são desconfiados. Se as artificiais não funcionarem, tenha iscas vivas à mão.

Cuidados no Manuseio

  • Guelras Afiadas: As guelras do robalo são muito afiadas e podem causar ferimentos graves.
  • Manuseio Seguro: Aconselha-se manusear o peixe pela boca, com cuidado.
  • Movimentação: Por ser arisco, o robalo se movimenta muito fora da água.
  • Risco de Ruptura: As guelras afiadas também podem cortar a linha durante a briga, por isso atenção redobrada.

Leis da Pesca e Conservação

A pesca do robalo, especialmente do robalo-flecha e do robalo-peva, exige o conhecimento e o respeito às leis para garantir a sustentabilidade da espécie.

Período de Defeso

  • Proibição: Em muitos estados, os meses de novembro e dezembro são proibidos para a pesca do robalo, pois é o período de desova.
  • Objetivo: Estimular a procriação e a perpetuação da espécie.

Limitações de Tamanho

  • Paraná (Exemplo):
    • Robalo-Peva: Mínimo de 40 cm.
    • Robalo-Flecha: Mínimo de 60 cm e máximo de 70 cm.
  • Objetivo: Garantir que apenas exemplares adultos sejam capturados, permitindo que os juvenis atinjam a fase reprodutiva.

Legislação Internacional

  • Flórida (EUA): Também possui leis de proteção rigorosas, especialmente após uma onda de frio em 2010 que comprometeu a reprodução.
  • Proibição de Redes: Redes de cerco e lanças são proibidas, restringindo a pesca a anzol e linha.
  • Atualização: As leis se atualizam frequentemente, sendo importante verificar a legislação local antes de pescar.

A Importância da Pesca Esportiva

A pesca esportiva, quando praticada com ética e responsabilidade, é uma ferramenta crucial para a conservação:

  • Catch and Release: O animal é capturado e solto novamente, sem finalidade de abate.
  • Sustentabilidade: Evita desperdícios e a sobrepesca, devolvendo a maioria dos peixes ao seu habitat.
  • Conscientização: Promove o respeito à natureza e o conhecimento sobre as espécies.
  • Economia: Movimenta o comércio e incentiva o turismo, gerando benefícios para as comunidades locais.

Curiosidades Sobre o Peixe Robalo

O robalo é um peixe cheio de fatos interessantes que o tornam ainda mais fascinante:

  1. O Dono do Mangue: É muito fácil encontrar robalos em manguezais, por isso os pescadores o apelidaram de “rei do mangue”. Mas também aparece em baías, lagoas e costões oceânicos.
  2. O Mais Pesado: Os maiores e mais pesados exemplares de robalos estão localizados na costa nordestina.
  3. Peixe Gigante: O robalo-flecha é o maior, com exemplares que chegam a 25 kg, mas já houve ocorrências de peixes com 40 kg.
  4. Inteligência Animal: Muitos pescadores consideram difícil capturar um robalo porque ele ataca a isca com violência e parece “raciocinar” sobre como escapar da captura.
  5. Faixa de Autenticação: A faixa lateral preta que percorre todo o corpo até a cauda é uma marca registrada de autenticidade em muitas espécies.
  6. Bom de Briga: É considerado um peixe “bom de briga”, tanto em suas caçadas por alimento quanto ao tentar se livrar do anzol.
  7. Desconfiado: É um peixe muito desconfiado. Iscas artificiais podem afastar o robalo, por isso é bom ter iscas vivas como alternativa.

Preço do Robalo e Valor Culinário

Preço Acessível

Apesar de ser amplamente valorizado na culinária e pesca, o robalo não é um dos peixes de água salgada mais caros. Seu preço médio costuma ser bastante acessível, variando de R$26,90 a R$69,90 o quilo.

Fatores que Influenciam o Preço:

  • Região do país
  • Tipo de conserva (fresco ou congelado)
  • Se está limpo ou precisa de limpeza
  • Época do ano (maior fartura = menor preço)
  • Datas comemorativas (Semana Santa = maior preço)

Carne Valorizada na Culinária

A carne do robalo é macia, saborosa e amplamente valorizada na culinária brasileira.

  • Preparo Preferido: Chefs adoram envolvê-lo em uma casquinha crocante (crosta de sal, castanhas/amêndoas ou pão) para realçar sua maciez.
  • Cozimento a Vapor: A melhor forma de preparar é cozinhando a vapor, para conservar a umidade e a suculência da carne, mantendo a fibra. O cozimento deve ser rápido para não ressecar.

Dicas de Criação de Robalo em Cativeiro

Além da pesca esportiva, o robalo também é um peixe adequado para criação em cativeiro.

Estrutura Necessária

  • Espaço: Requer um bom espaço, com ao menos 3 metros de profundidade por 1 de largura.
  • Local: Preferencialmente em açudes, tanques escavados ou represas.
  • Cuidado com Malha: Atenção especial ao colocar a malha para evitar que prenda o peixe.

Alimentação em Cativeiro

  • Dieta: Não difere muito do habitat natural: camarões e pequenos peixes.
  • Crescimento: Conforme o peixe cresce, a demanda por alimento aumenta.

Reprodução em Cativeiro

  • Maturidade: Fêmeas aos 3 anos, machos aos 2 anos.
  • Desova: Ocorre no verão.
  • Indução Hormonal: A reprodução em cativeiro geralmente requer a inserção de hormônios manipulados em laboratório para obter filhotes saudáveis.
  • Especialista: É fundamental contar com um especialista para acompanhar o processo.

Veja mais aqui:

Conclusão

O robalo é um peixe extraordinário que oferece um desafio emocionante para pescadores esportivos e uma carne de alta qualidade para a culinária. Seja o gigante robalo-flecha ou o comum robalo-peva, a busca por esse predador astuto é uma paixão nacional.

Para ter sucesso, estude as condições do local, utilize equipamentos adequados (vara de ação média, linha de libragem correta), e escolha as iscas certas (naturais ou artificiais, conforme a água). Lembre-se sempre de manusear o peixe com cuidado devido às guelras afiadas e, acima de tudo, respeite as leis de pesca e os períodos de defeso.

A pesca esportiva consciente é fundamental para garantir que o “rei do mangue” continue a povoar nossas águas, proporcionando emoção e sabor para as futuras gerações.

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